Jully

 

 

A entrada da boate Êxtase se ergueu diante de nós como um portal para um mundo onde o perigo era sedutor e a escuridão, tentadora. O edifício, de arquitetura gótica e imponente, exalava uma frieza aristocrática, enquanto luzes em tons de vermelho escorriam pela fachada como gotas de sangue.

 

Lucien guiou-me através da entrada, seus dedos entrelaçados aos meus, transmitindo uma confiança serena e inabalável. Eu não tinha ideia de que uma noite poderia parecer tão viva e, ao mesmo tempo, tão mortal. Ao cruzar as portas pesadas, fui recebida por uma onda de música baixa e pulsante, uma batida que parecia sincronizar-se com meu coração.

 

No salão principal, as sombras dançavam sobre os corpos que se moviam ao ritmo hipnótico. Figuras de olhos intensos e pele pálida olhavam para nós, algumas reverentes, outras curiosas. Ali, a humanidade era um luxo raro. Lucien sabia o efeito que tinha sobre as pessoas e usava isso para traçar nosso caminho através do salão.

 

Ele não me apressou. Seu olhar me sondava a cada instante, seus dedos tocando meu pulso, sentindo meu nervosismo. E, no entanto, com uma compreensão profunda, ele me guiou até o mezanino, onde a música era mais sutil e os olhares menos invasivos.

 

Vou cuidar de você, Jully," ele murmurou, seus olhos negros faiscando. Vou lhe mostrar como tudo funciona, como escolher aqueles com o sangue mais puro. Não precisa temer.

 

Conforme me orientava, Lucien me mostrou os humanos que frequentavam o Êxtase: havia aqueles que ofereciam seus pescoços voluntariamente, sedentos pela sensação única da mordida imortal. Lucien escolheu com cuidado, apresentando-me apenas os mais saudáveis, os de aura límpida e viva. Quando finalmente bebi pela primeira vez, senti uma onda avassaladora de energia correr por mim, inundando-me com uma sensação proibida e arrebatadora. Lucien manteve-se ao meu lado, segurando minha mão enquanto o êxtase da primeira alimentação preenchia meu ser.

 

Mas a tranquilidade da noite não durou. Logo após o último gole, uma presença ameaçadora se fez sentir. Bill e Tom Kaulitz, os irmãos que vinham tentando me afastar do caminho de Lucien, surgiram do meio da multidão, seus rostos tensos, os olhos cheios de urgência e fúria. Bill avançou primeiro, mas Lucien, com uma calma quase cruel, deu um passo à frente.

 

Aqui, ela está protegida, ele declarou, sua voz cortante como gelo. Jully agora é minha, a futura senhora dos imortais.

 

Com um aceno sutil, um grupo de vampiros reuniu-se em torno de nós, seus olhos cintilando, formando uma barreira impossível de atravessar. Bill e Tom sabiam que, naquele lugar, eram superados em número e força. Um olhar sombrio passou entre eles antes que recuassem, deixando o Êxtase com a promessa silenciosa de que retornariam.

 

Lucien me envolveu em um abraço seguro, sua presença firme dissolvendo qualquer vestígio de medo que ainda pudesse existir em mim. Ele me conduziu para fora da boate, e logo estávamos em sua mansão, onde a quietude contrastava com a intensidade do que havíamos deixado para trás.

 

Descanse agora, Jully, ele sussurrou, acariciando meus cabelos. Estamos apenas começando a sua jornada.

 

Deitei-me em um leito de seda e mármore, os sentidos ainda despertos pela experiência. O mundo sombrio que Lucien me mostrara agora fazia parte de mim. Eu sentia o poder pulsando sob minha pele, e, ao meu lado, Lucien, vigilante e paciente, aguardava o amanhecer com um sorriso enigmático.

 

 

 

 

 

Bill

 

 

Entrar no Êxtase já era um risco calculado. Tom e eu sabíamos que estávamos em território inimigo, onde cada sombra parecia pulsar com ameaças invisíveis, mas as luzes rubras e a batida sombria da música nos impeliam a seguir. A atmosfera estava carregada de uma tensão quase palpável, o cheiro metálico de sangue pairava no ar, e cada rosto na multidão parecia ocultar segredos perigosos. Se Jully estava lá dentro, tínhamos que encontrá-la antes que fosse tarde demais.

 

Enquanto caminhávamos pelo salão, a inquietação aumentava dentro de mim. Eu tinha ouvido rumores sobre o domínio de Lucien e suas promessas de imortalidade, mas ver a boate com meus próprios olhos era outra coisa. O lugar era um covil de criaturas que há muito haviam abandonado qualquer traço de humanidade. As figuras ao nosso redor tinham olhares intensos e posturas predatórias, como se apenas aguardassem o momento certo para atacar.

 

Eu tentava manter o foco, mas não podia ignorar o medo rastejante que me tomava. Estávamos cercados de vampiros – e não qualquer tipo de vampiro, mas os mais fiéis seguidores de Lucien, aqueles que fariam qualquer coisa para proteger seu mestre. E lá, no alto do mezanino, finalmente a avistei: Jully. Ela estava ao lado de Lucien, sua expressão perdida, o olhar ainda radiante de algo que eu reconheci com um nó no peito. Ela tinha se alimentado.

 

Senti o ódio subir à minha garganta como fel. Tom colocou a mão no meu ombro, tentando me conter, mas era inútil. Jully era uma amiga, um amor. Não podia deixá-la ser enredada por Lucien e seus planos ambiciosos. Precisávamos tirá-la dali. Fiz menção de avançar, mas Lucien nos percebeu, e o sorriso que surgiu em seu rosto era gélido, cortante, como a lâmina de uma faca.

 

Aqui, ela está protegida, sua voz soou como um aviso claro, desafiando-nos a dar mais um passo. Jully agora é minha, a futura senhora dos imortais.

 

As palavras ecoaram dentro de mim como um golpe. Eu sabia do que ele falava, mas ouvi-lo declarar isso em voz alta, perante todos os seus asseclas, foi um choque. Olhei para Jully, esperando ver algum lampejo de reconhecimento, algum pedido de ajuda em seus olhos, mas tudo o que vi foi uma quietude que não me dava escolha a não ser aceitar o que Lucien havia dito.

 

Antes que pudéssemos reagir, mais vampiros surgiram ao redor, fechando-se como uma muralha viva entre nós e eles. O salão inteiro estava em silêncio, como se cada ser naquele lugar estivesse prendendo o fôlego, aguardando o próximo movimento. Eu e Tom estávamos sozinhos no meio de uma horda, sem saída.

 

Bill, vamos… Tom murmurou, a tensão clara em sua voz. Ele sabia tão bem quanto eu que qualquer movimento imprudente poderia ser o último. Com um nó de raiva e impotência no peito, eu dei um último olhar para Jully e, contra minha vontade, dei um passo para trás. Tom me puxou pelo braço, e saímos dali, com a sensação amarga da derrota impregnada em nós.

 

Eu queria gritar, queria que ela soubesse que não a abandonaríamos, que estávamos ao lado dela, mas naquele momento, a única escolha que restava era recuar. Naquela noite, o poder e a escuridão de Lucien haviam triunfado.

 

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